sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ayahuasca

Ayahuasca, nome de origem inca, refere-se a uma bebida sacramental produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: um cipó Banisteriopsis Caapi e folhas de um arbusto Psychotria viridis.

É também conhecida por Yagé, Caapi, Nixi Honi Xuma, Oasca, Vegetal, Santo Daime, Kahi, Natema, Pindé, Dápa, Mihi, "O Vinho da Alma " ou "Pequena Morte", entre outros. O nome mais conhecido, Ayahuasca, é de origem quechua, e significa "Liana (Cipó) dos Espíritos".

Utilizada por povos pré-colombianos, incas, e muito utilizada, por pelo menos, setenta e duas tribos indígenas diferentes da Amazônia. É empregada extensamente no Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil. Foi usada provavelmente na Amazônia por milênios, e está expandindo-se rapidamente na América do Sul e outras partes do mundo com o crescimento de movimentos religiosos organizados tais como Santo Daime, União do Vegetal (UDV), Barquinha ou Natureza Divina que a consagram como sacramento de seus rituais.

A aparência da ayahuasca varia entre diversos tons de terra variando entre o bege claro e translúcido ao marrom (castanho) escuro. Os métodos de preparo variam conforme a tradição de cada local e da ocasião em que o consumo se dá. De qualquer maneira, o processo é longo e leva quase um dia para o preparo. As diversas beberagens geralmente contêm talos socados do cipó caapi (Banisteriopsis caapi) mais as folhas da chacrona ou rainha (Psychotria viridis).

Outras plantas podem ser acrescentradas conforme a tradição do feitor da ayahuasca. As religiões ayahuasqueiras do Brasil usam somente Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis nos preparos.

Segundo os usuários, a ayahuasca não seria um alucinógeno. Seus defensores preferem utilizar o termo enteógeno, uma vez que seu uso se dá em contextos litúrgicos específicos. Para seus críticos, contudo, a opção sócio-cultural do usuário ou a tolerância religiosa de alguns países ao DMT não altera a classificação, uma vez que o objetivo continua sendo o de induzir visões pessoais e estados alterados através da ingestão de substâncias.

O que clinicamente caracteriza alucinações (percepção de aparente natureza sensorial não registrada pelos sentidos físicos dos demais) não ocorrem nas "mirações" da ayahuasca, pois no âmbito científico, a palavra alucinação significa "substância que produz falsas percepções da realidade"

e tem sua origem na classificação farmacológica das substâncias psicoativas (que agem nas emoções e pensamentos).

Para alguns pesquisadores, a classificação da Ayahuasca como "alucinógeno" é uma imprecisão, pois o mesmo não causa perda do contato com a realidade - como pressupõe o termo - mas sim um grau ampliado de percepção que permite a compreensão daquela realidade com maior clareza ou transcendência.

Em outras palavras o que ocorre com a Ayahuasca é uma ampliação da percepção o que faz com que a pessoa veja nitidamente a sua imaginação (o que provoca as visões, que são como um sonho acordado e consciente) e outras percepções da realidade, estando sempre consciente do que acontece.

O que os usuários valorizam é a propriedade anti-tóxica do chá capaz inclusive de salvar a vida de quem foi picado por uma cobra ou outro animal venenoso (comprovado pela experiência milenar dos povos da Amazônia, entre eles índios e caboclos) que permite que com 60 dias de uso freqüente do chá as pessoas consigam se livrar de vícios como o álcool e o cigarro

O verdadeiro objetivo dos usuários, o que valorizam acima de tudo e que os fazem considerá-lo divino é a propriedade do chá de facilitar a compreensão e transformação humana quando orientado por uma doutrina de justiça e bondade o que é responsável inclusive pela recuperação de pessoas que a sociedade já considerava sem salvação pela violência que demonstravam e que agora trabalham pela paz

Em contexto religioso, tais fenômenos são atribuidos à clarividência, Projeção da consciência ou contatos espirituais. Em outras experiências, dependendo da formulação de cada grupo e tolerância particular, o estado alterado se dá através de visões interiores próximas do estado meditativo, onde o usuário consegue distinguir as "mirações" pessoais da "realidade exterior".

Espiritual ou não, a propriedade psicoativa da Ayahuasca se deve à presença, nas folhas da chacrona, de uma substância enteógena (alucinogéna, para outros autores) denominada N,N-dimetiltriptamina (DMT), produzido naturalmente (em doses menores) no organismo humano. O DMT é metabolizado pelo organismo por meio da enzima monoamina oxidase (MAO), e não tem efeitos psicoativos quando administrado por via oral. No entanto, o caapi possui alcalóides capazes de inibir os efeitos da MAO: harmina e harmalina, principalmente. Desse modo, o DMT fica ativo administrado por via oral e tem sua ação intensificada e prolongada.

Outras plantas - amazônicas ou não - também possuem DMT ou análogos, sendo utilizadas por tribos indígenas no contexto religioso. Entre estas estão a jurema (Mimosa hostilis) e o yopo (Anadenanthera colubrina). A jurema é consumida na forma de chá, enquanto as sementes do yopo são maceradas e seu pó, consumido pela via intranasal (cheirado).

Segundo os usuários, a ayahuasca provoca "alterações de consciência" sem causar danos físicos, inclusive atribuindo à substância propriedades curativas, como reativar órgãos danificados. De fato, não há dependência física conhecida, ainda que a dependência do uso da planta em todos os ritos para se atingir estados alterados seja visto, por críticos, como manifestação de uma dependência psíquica bastante estimulada pelo contexto religioso e social.

Porém Os seus defensores argumentam que o hábito de ir a missa toda semana ou consumir certo tipo de alimento todo dia também pode ser visto como dependência psíquica, mostrando que os críticos nada provam e não sabem do que estão falando.

O consumo está associado a práticas religiosas e parece ser utilizada por tribos indígenas da Amazônia a séculos. As seitas religiosas mais conhecidas no Brasil são o Santo Daime (com duas vertentes principais, o Cefluris e o Alto Santo),o Natureza Divina, A Barquinha. Existe ainda uma religião, a União do Vegetal, fundada pelo Mestre José Gabriel da Costa, onde é empregada a Oasca nas sessões, que é consumida para efeito de concentração mental, por livre e espontânea vontade de cada indivíduo. O consumo da Oasca na União do Vegetal é feito no sentido da evolução dos indivíduos. As sessões são feitas em prol do esclarecimento de cada um. São contados acontecimentos históricos, fatos, realidades da vida, facilitando o discernimento. Ou seja, as sessões são voltadas para o engrandecimento intelectual, emocional e espiritual de cada ser que tem o privilégio de chegar até a religião. Os efeitos estão bastante relacionados aos rituais religiosos onde se dá o consumo, frequentemente baseado na crença da possibilidade de contato com outros planos espirituais.

Segundo linhas tradicionais de uso, ingerindo essa bebida mágica, pode-se absorver o “Espírito da Planta”. Os sentidos são expandidos, os processos mentais e as emoções tornam-se mais profundos. A jornada pode mover-se em muitas dimensões. O vôo da alma, a partida do espírito do corpo físico, uma sensação de flutuar.

A experiência pode em algum ponto revelar visões notáveis, insight´s, produzir catarses, produzindo experiências de renovação, de renascimento positivas. Visões arquetípicas, de animais, de espíritos elementais, de cenas de vidas passadas, de Divindades, etc. Abre-se o portal de outros reinos da existência.

Nem todos recebem visões na primeira vez que experimentam. O trabalho com Ayahuasca é um processo que exige exame, dedicação, disciplina, perseverança e tempo para um benefício mais completo. Às vezes são necessárias várias sessões para se conseguir esse presente.

Uma vez iniciado o processo da renovação e transformação, estas continuam. O grande passo no trabalho com a Ayahuasca é a assimilação dos ensinamentos espirituais e a prática na vida diária.

À ayahuasca atribui-se a cura de males físicos, psicológicos,mentais e espirituais. Há estudos científicos preliminares sobre aplicações médicas e psicoterapêuticas, entretanto sem conclusões marcantes.

No Peru os xamãs evocam guardiães, protetores espirituais. Evocam carcanas (escudos protetores) através de cânticos de poder (ícaros), do fumo de tabaco, de uma poção de limpeza (vomitiva), camalonga, e algumas águas perfumadas (água de Florida, flores de Kananga) que atraem os espíritos.

A jornada com Ayahuasca leva à exploração tanto deste mundo “ordinário”, como de mundos paralelos, que estão além de nossa percepção corrente. Podem ocorrer sensações de liberação dos limites normais de espaço-tempo.

Sua utilização divide opiniões. A favor do uso, seus adeptos ressaltam que:

  • Após 18 anos de estudos, o CONAD (Conselho Nacional Antidrogas) do Brasil, retirou a Ayahuasca da lista de drogas alucinógenas conforme portaria publicada no Diário Oficial da União em 10/11/2004.
  • A Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu (em 20/02/2006) que o governo dos Estados Unidos não pode impedir a filial da União do Vegetal no estado do Novo México de utilizar o vinho Ayahuasca (Hoasca / Santo Daime) em seus rituais religiosos. O veredicto atesta que o grupo religioso está protegido pelo 'Religious Freedom Restoration Act', aprovado pelo congresso em 1993, e que foi peça jurídica fundamental no processo que legalizou o uso ritual do cactus peyote (princípio ativo: mescalina) pela 'Native American Church' - congregação que reúne descendentes de algumas etnias indígenas norte-americanas. Mais informações aqui
  • A ONU emitiu um parecer favorável recomendando a flexibilização das leis em todos os países do mundo no que se refere à Ayahuasca.

Não há dados científicos que indiquem riscos em relação à saúde física. Há, contudo, constantes relatos de vômitos, diarréias e sudorese em alto percentual dos que a experimentam, o que sugere tentativas do corpo em expelir a substância. O uso contínuo, entretanto, parece favorecer uma tolerância química ao princípio ativo, com os sintomas diminuindo de intensidade.

Em alguns casos, a ingestão pode levar a sensação de medo e perda do controle, levando a reações de pânico. Na maior parte das vezes tais reações passam junto com o efeito da bebida, sem necessidade de atendimento médico.

O consumo da bebida pode desencadear quadros psicóticos em pessoas predispostas a essas doenças, ou desencadear novas crises em indivíduos portadores de doenças psiquiátricas (transtorno bipolar, esquizofrenia).

Pessoas com transtorno bipolar (antiga psicose-maníaco-depressiva) devem merecer atenção especial. Os alcalóides inibidores de mono-amono oxidase presentes na bebida, como a harmina e harmalina, têm efeito análogo a alguns antidepressivos, como a moclobemida (Aurorix). E antidepressivos, sejam inibidores de monoamino oxidase, inibidores seletivivos de recaptação de serotonina ou ainda de outras classes são associados a maior risco epsódios de mania em casos de transtorno bipolar. O vinho pode então talvez ter efeitos indesejáveis.


Recomenda-se administrar com cuidado a pessoas que estejam tomando antidepressivos, de qualquer classe. Talvez o maior perigo na interação de antidepressivos com ayahuasca seja a ocorrência de um quadro de síndrome serotoninérgica, mas mesmo que não chegue a tal sintomas bem desagreadáveis podem ocorrer.

Pode haver interação também com antihistamínicos.

Calmantes, como benzodiazepínicos, podem tornar mais fortes os efeitos da ayahuasca.

fonte: pt.wikipedia.org


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